Opinião – Prevenção emergencial frente à COVID-19
Após a decretação da pandemia, os governos, por meio de seus vários órgãos, precisaram agir rapidamente produzindo protocolos e criando ou adaptando a legislação para o enfrentamento da crise sanitária.
Da noite para o dia, as empresas e seus trabalhadores foram obrigados a conviver com novos regramentos e rotinas, que visavam reduzir o contágio. Entrava em cena um personagem que passou de coadjuvante a protagonista principal: o teletrabalho ou “home office”.
A representação da categoria bancária agiu com rapidez celebrando acordos emergenciais no âmbito da FENABAN e por bancos individualmente e logo, um enorme contingente de pessoas passou a trabalhar a partir de suas casa. Foram protegidos pela medida, bancários dos grupos de risco, além daqueles que residiam com pessoas dos grupos de risco e bancários com filhos em idade escolar. Estima-se que iniciativa atingiu cerca de 230 mil trabalhadores de todo o Brasil.
Desafios da ambiência
Migrar a atividade do escritório para o lar trouxe à tona algumas questões de natureza prática, que em alguns casos eram (e ainda são) muito difíceis de equacionar. Comecemos pela infraestrutura − é preciso ter o mobiliário adequado, bom nível de iluminação e controle sobre o ruído. Esses itens são facilmente providos no ambiente empresarial, porém, no espaço doméstico nem tanto, uma vez que nem sempre é possível ter um aposento separado para a realização do trabalho.
Além desses componentes é preciso garantir a conectividade com os sistemas de informação do banco, ou seja, é indispensável um bom plano de acesso à internet e o equipamento eletrônico básico para a execução das tarefas.
O custo financeiro decorrente da transferência das atividades profissionais para o domicílio é considerável e precisa ser discutido com o patronato, os bancos reconhecem o aumento das despesas para o trabalhador, porém, a ajuda de custos proposta ainda é, em geral, bastante tímida.
Há avanços no fornecimento de móveis para os trabalhadores, principalmente cadeiras, mas é preciso investir, também, na conscientização dos empregados e de seus gestores para que atentem para a correta ergonomia do posto de trabalho, pois a meta principal é manter a saúde.
Adaptação ao modelo
Uma vez implementado o teletrabalho, cabe perguntar como os trabalhadores estão reagindo ao novo cenário, de que maneira estão sendo afetados e quais seus anseios.
Várias entidades públicas e privadas, dentro e fora do mundo acadêmico estão produzindo conhecimento nessa área, o DIEESE já elaborou duas grandes pesquisas envolvendo o trabalhador bancário e a partir desses resultados, o movimento sindical está conseguindo uma compreensão mais profunda, sobre as reais condições de trabalho e sobre quais são os problemas que estão afligindo a categoria nessa nova modalidade. Veja aqui os resultados da primeira pesquisa.
Podemos dizer que, de maneira geral o trabalho remoto está sendo um choque para muitas pessoas. Uma pesquisa da FGV aponta que 56% dos profissionais ouvidos, relata dificuldades grandes ou moderadas para lidar com o teletrabalho.
Sobrecarga de atividades e foco
O confinamento amplia a jornada de trabalho e impõe alto nível de estresse aos bancários e a trabalhadores de outras categorias. Por outro lado, há também, em alguns casos, dificuldade em manter o foco devido a inadequação do ambiente, ou por conta do compartilhamento do espaço com outras pessoas.
Ganho de produtividade e redução de custos para os bancos
Os bancos Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil lucraram quase 22 bilhões de reais no primeiro trimestre desse ano, o que significa uma elevação próxima de 56% quando comparado ao mesmo período de 2020.
O número pujante pode ser explicado por dois fatores principais. Foi revertida a provisão (bastante conservadora diga-se de passagem) para devedores duvidosos e reduzido custos com aluguéis, vigilância, limpeza e energia entre outros itens administrativos.
No contexto da negociação sobre o teletrabalho, temos discutido com os banqueiros a participação da categoria nesses ganhos.
Nada será como antes
O cenário é de transformação e ainda não está consolidado, porém já se vislumbra que em grande medida o mundo do trabalho não voltará inteiramente a ser como era.
A pandemia demonstrou que há atividades com vocação natural para o teletrabalho. Logicamente as pessoas reagirão de modo diverso ao convite ou imposição para
permanecerem em trabalho remoto. É preciso que os trabalhadores tenham voz nesse processo, deixar que o mercado regule totalmente a relação, certamente causará traumas profundos, além daqueles que já se mostram no momento.
O caso das grandes empresas de tecnologia
Ainda vivíamos num mundo livre do Sars-CoV-2 e empresas como Facebook, Twitter, Google, Apple e outras grandes companhias de tecnologia já adotavam o teletrabalho, o modelo não era amplamente disseminado, porém, dada a especificidade e a natureza inovadora dessas companhias, o trabalho remoto era uma possibilidade concreta.
O processo de adaptação das gigantes da tecnologia foi extremamente rápido e elas já vislumbram os próximos passos após o fim da pandemia.
O recrutamento global será levado a um novo patamar, diminuirão as barreiras geográficas para a contratação.
Ferramentas baseadas em nuvem possibilitarão uma experiência de contato entre as pessoas mais próxima da realidade, o que tornará o trabalho colaborativo realizado remotamente mais fluido e natural.
Cabe ressaltar que essas possibilidades não estarão amplamente acessíveis em todas as empresas e que o trabalhador pode simplesmente não se sentir atraído por elas. A desumanização inerente ao teletrabalho é referida por muitos como um elemento determinante para a escolha da modalidade presencial.
Considerações finais
Chegaram as vacinas e o processo de imunização progride, os números de óbitos e de novos infectados recuam sinalizando que a retomada das atividades ocorrerá ao longo do próximo ano.
Do ponto de vista da representação da categoria estamos nos preparando para debater com os banqueiros protocolos seguros de retorno. Sindicatos fortes e comprometidos não podem deixar que a ansiedade pela volta ao regime presencial arruíne o que foi construído até aqui.
É preciso assumir posturas firmes que reduzam a circulação do vírus e inibam o surgimento de novas cepas. Isso significa, por exemplo, exigir que trabalhadores e clientes estejam vacinados para adentrar aos bancos.
O que percebemos até o momento é que está se saindo melhor nessa crise, quem aposta na ciência e investe na vacinação, no isolamento social, no uso da máscara e na assepsia rigorosa das pessoas e dos ambientes.
Fonte: SP Bancários
Notícias. FEEB-SC