O poder de compra de trabalhadores e trabalhadoras do Brasil sofreu mais um ataque com o reajuste dos preços dos combustíveis, anunciado pela Petrobras nesta segunda-feira (5), que passa a valer já a partir desta terça-feira (6). Estão mais caros nas refinarias a gasolina (6,3%), o diesel (3,7%) e o gás de cozinha (5,9%). Desde o início do governo de Jair Bolsonaro ( ex-PSL), o gás vendido pela estatal acumula alta de 66%.
O aumento, que chegará em breve às bombas de combustíveis e nas distribuidoras de gás GLP, impactará na inflação que já chega a 4,13% em 2020 e 8,13% em doze meses, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Leandro Horie, explica que o impacto desse reajuste se reflete em toda a economia, o que deve puxar ainda mais para cima o índice inflacionário, e para baixo o poder de compra dos trabalhadores.
“O aumento dos preços é sempre problemático. Ao mesmo tempo em que aumenta o custo direto ao consumidor, como tornar mais caro encher o tanque do carro, ainda significa aumento de custos para produtores de bens e serviços, que certamente repassarão aos seus preços. Isso acaba por gerar pressão por aumentos de preços, ou inflação, tanto direta como indiretamente”, diz Leandro.
Os combustíveis figuram como um importante insumo produtivo nas mais diversas atividades da economia e como o seu custo tende a ser repassado para os preços dos produtos, a inflação que já está alta, tende a aumentar.
Preços mais altos – como alimentos e vestuário – impactam na renda das pessoas, ou seja, o orçamento familiar fica menor. É o que explica a também técnica do Dieese, Adriana Marcolino.
“O transporte é item presente em toda cadeia de produção. Tem impacto nos alimentos, nos remédios, vestuário, enfim, em tudo que compõe o orçamento familiar”, diz Adriana.
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Inflação mais alta corrói o poder de compra. A renda das famílias é o principal componente da demanda por bens e serviços. É, em grande parte, o que faz a economia girar.
Por isso que quando “ tudo sobe’” e em tempos de desemprego em alta (14,7%), a ausência de reajustes salariais e os baixos rendimentos, por causa do aprofundamento da crise econômica causada pela pandemia da Covid-19, o que o brasileiro ganha (quando ganha), dá cada vez menos para se sustentar.
“A combinação de alto custo de vida, inflação e desemprego é muito nociva para os trabalhadores. O poder de compra diminui, e por isso se vê tantas categorias que não conseguem conquistar sequer a reposição inflacionária nas negociações coletivas anuais”, diz Clovis Scherer, economista do Dieese.
E, com os sucessivos reajustes de combustíveis, cada vez mais a situação tende a se agravar. Clovis afirma que o cenário para os trabalhadores atualmente não está favorável. “Se alguns números sugerem que a economia esteja se recuperando, o emprego não voltou ao patamar de antes da crise da pandemia, que já não era lá muito elevado e há quem duvide que haja qualquer melhora se a atual política econômica persistir”, diz.
Ainda sobre o impacto do reajuste dos combustíveis para a economia, Clovis Scherer afirma que a alta das taxas de juros, usadas pelo Banco Central para combater a inflação, tendem a esfriar a geração de empregos.
“Por um lado, o desemprego e o desalento deixam sem renda quase 30% dos adultos. Por outro lado, a perda de poder aquisitivo dos salários afeta outros 50% a 60% da população. O que sobra é apenas uma pequena parcela que recebe rendas do capital e da propriedade da terra, mas que não têm um consumo grande o suficiente para fazer girar as rodas da economia.”
Este é o décimo-quinto aumento consecutivo no preço do gás de cozinha nas refinarias da Petrobras, após um período de queda no início da pandemia.
Com os novos reajustes, o preço do gás de cozinha subirá R$ 0,20 por quilo, para R$ 3,60 (ou R$ 46,80 o botijão de 13 quilos). Já gasolina e diesel subirão R$ 0,16 e R$ 0,10 por litro, para R$ 2,69 e R$ 2,81, respectivamente. Os valores incluem impostos.
De acordo com dados do Dieese, as famílias brasileiras comprometem, em média, 6,2% do seu orçamento com combustíveis e 1,8% com gás de cozinha e gás encanado – valores, que variam conforme o local, a renda, a composição de cada família, entre muitos outros fatores.
Com a promessa de controlar reajustes, Jair Bolsonaro até trocou o presidente da Petrobras. O general Joaquim Silva e Luna assumiu a estatal em abril deste ano. Já em sua gestão o gás de cozinha teve um aumento de 6%.
A gasolina e o diesel tiveram redução dos preços nas refinarias nos meses de maio e junho, mas de apenas 2%, índice três vezes menor que o reajuste desta segunda-feira, no caso da gasolina.
A elevação e preços é consequência da política de paridade de preços (PPI), praticada pela Petrobras desde o governo de Michel Temer (MDB-SP), que faz com os preços daqui acompanhem a variação internacional pelo dólar, mesmo o Brasil sendo produtor de petróleo.
Fonte: Seeb/Rio