Influenciado pela queda nos preços dos combustíveis, em particular da gasolina e do etanol, e da energia elétrica, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), a prévia da inflação oficial, teve queda de 0,73% em agosto, após alta de 0,13% em julho. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi a menor taxa desde o início da série histórica, iniciada em novembro de 1991. Por outro lado, o grupo de alimentação e bebidas, que mais pesa no bolso da população de baixa renda, não deu trégua e teve elevação de 1,12% neste mês.
O resultado do grupo de alimentos foi fortemente influenciado por produtos como o leite longa vida, que registrou aumento de 14,21% e acumula alta de 79,79% no ano. Segundo o IBGE, foi o maior impacto individual positivo no índice do mês. Destacaram-se ainda, dentro do conjunto de alimentação e bebidas, as altas do queijo (4,18%), das frutas (2,99%) e do frango em pedaços (3,08%).
Com o resultado de agosto, o IPCA-15 acumulado em 12 meses recuou de 11,39%, no final de julho, para 9,60% neste mês. O economista André Braz, da Fundação Getulio Vargas, explicou que a deflação foi determinada pela redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) da gasolina e da energia, determinada pela Lei Complementar 194, sancionada no fim de junho. “Não há uma queda generalizada da inflação, já que os preços de produtos essenciais, como alimentos, continuam em alta. No entanto, dado o comportamento recente das cotações das commodities agrícolas, é possível que a inflação dos alimentos, que ainda se mostra persistente, ofereça alguma trégua nos próximos meses” afirmou Braz.
“As economias da China e dos países da Europa estão desacelerando. Então, vão passar a demandar menos commodities”, explicou o economista. “O efeito disso a gente já consegue ver através das cotações em dólar de milho, soja, trigo, minério de ferro, que cederam bastante em comparação ao período de julho. Essa queda deve aliviar as pressões inflacionárias domésticas”, antecipou.
Outro grupo que teve aumento significativo em agosto foi o de saúde e cuidados pessoais, com 0,81%. Nesse grupo, foi decisiva a influência dos planos de saúde, que registraram alta média de 1,22%, correspondente à fração mensal do reajuste de 15,50% autorizado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em 26 de maio, para os planos familiares e individuais. Além disso, os itens de higiene pessoal aceleraram a alta de 0,67%, em julho, para 1,03% em agosto.
A queda de 16,80% da gasolina foi determinante para a deflação registrada pelo IPCA-15 em agosto. O combustível ficou mais barato após duas reduções de preço anunciadas pela Petrobras, refletindo menores cotações do produto no exterior, e, sobretudo, o corte de impostos, como o ICMS e Pis/Cofins. Com isso, o grupo transportes teve variação negativa de 5,24%, produzindo o maior impacto baixista (1,15 ponto percentual) no indicador.
A queda de preços ocorreu no etanol (10,78%), gás veicular (5,40%) e óleo diesel (0,56%). Dentro do grupo transportes, outro subitem com intensa variação negativa foram as passagens aéreas (12,22%), após quatro meses consecutivos de alta.
Já a variação negativa no grupo habitação (0,37%) está relacionada ao recuo nos preços da energia elétrica residencial (3,29%), devido à redução, na maioria dos estados, da alíquota de ICMS cobrada sobre esse serviço. Além disso, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou revisões tarifárias extraordinárias de diversas distribuidoras que operam em áreas de abrangência do índice, reduzindo as tarifas a partir de 13 de julho.
Houve variações negativas em três dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nos outros seis grupos, foi registrado aumento.
Para o economista-chefe da Gladius Research, Benito Salomão, a queda no IPCA-15 não vai se sustentar. “Na verdade, não podemos nem dizer que é uma deflação. Um índice negativo não significa uma deflação, principalmente no caso brasileiro, porque não é generalizado. A queda está localizada nos preços de energia e dos combustíveis”, explicou. “A redução foi feita devido ao artificialismo da política econômica.”
“Olhando para a composição da inflação, ela continua pressionada”, afirmou Claudia Moreno, economista do C6 Bank, em nota. “A queda dos preços administrados (combustíveis e energia) é pontual e não interfere na dinâmica da inflação à frente. Já os preços de bens industriais, que apresentavam tendência de desaceleração, vieram mais altos do que o esperado. Além disso, não há sinais de alívio na inflação de serviços.”
Fonte: Correio Braziliense
Notícias: FEEB-SC