Em entrevista, a professora e psicóloga da UnB, Dra. Ana Magnólia Mendes fala sobre os impactos da tecnologia na saúde mental do trabalhador
É inegável que os ambientes de trabalho estão cada vez mais tecnológicos e principalmente na pandemia, com o home office, o trabalhador simplesmente não consegue desconectar. Na Caixa, a realidade é exatamente essa. Os empregados trabalhando em casa estão sofrendo com o aumento da sobrecarga e a solidão em função do enfraquecimento dos laços sociais.
A psicóloga da Universidade de Brasília (UnB) Ana Magnólia Mendes explica esse fenômeno em que o trabalhador e a máquina passam a ser equivalentes. “Existe uma colonização veiculada por um discurso falacioso sobre as maravilhas que a tecnologia pode trazer, mas pensamos que uma das psicopatologias da era digital é a melancolização e seus graves efeitos para os transtornos fóbicos, paranóicos e maníacos causa das relações de trabalho mediadas pelas plataformas digitais, ressalta.
Os estudos já mostram que o uso imoderado da internet pode potencializar a ansiedade. O termo FOMO (Fear Of Missing Out ou ‘medo de perder algo’) é usado para descrever a necessidade que as pessoas têm de checar e-mails e redes sociais excessivamente. Claro que todo esse estresse é refletido nos ambientes de trabalho. Dados de 2017 da Secretaria de Previdência mostraram que os transtornos mentais são a terceira causa de afastamento no trabalho correspondendo a 9% da concessão de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez.
Para a psicóloga, as empresas estão “nadando de braçada”. “Convivemos com um taylorismo-tecno-colonial, uma nova invenção de escravidão tanto dos trabalhadores como dos usuários. O lucro de algumas empresas nos últimos seis meses de 2020 foi maior que o ano de 2019 então é difícil frear a expropriação do trabalho na era digital”.
Apesar da dificuldade, o trabalhador tem que encontrar uma forma de se desconectar para preservar sua saúde mental. Criar formas de resistir a esse discurso, construindo um saber singular a respeito dessa nova era das tecnologias digitais é uma das saídas apontadas pela professora. “Vamos ter que pensar juntos em saídas, mas é um desafio enorme encontrá-la”, finaliza.
Fonte: Fenae