O setor está em uma transformação significativa, com poucas certezas (Por Marcos de Vasconcelos)
Os últimos dias foram marcados pela divulgação de balanços de bancos, sempre essenciais para entender os caminhos do dinheiro. E vimos dois gigantes sangrando.
Bradesco e Santander registraram quedas brutais em seus lucros, levando a questionamentos sobre os próximos passos do setor financeiro.
Se você não checou as contas, o lucro do Santander em 2023 caiu mais de 27%, em relação ao ano anterior. No caso do Bradesco, a queda no período foi de 21%. Para piorar, esse é o segundo ano consecutivo que ambos veem o lucro escorrer cofres afora.
Não se trata de algo generalizado no setor. O gigante Itaú lucrou mais, assim como o BTG Pactual. Mas o baque dos seus concorrentes foi tamanho que, somando os resultados dos quatro, o lucro dos maiores bancos privados do país caiu 9,4%, como levantou a consultoria Etos Ayta.
O tombo surpreendeu (e muito) os analistas que acompanham de perto o mercado. Principalmente no caso do Bradesco. As ações do bancão derreteram no dia seguinte à divulgação dos resultados: caíram mais de 15% em um só pregão.
No caso do Santander, ainda que a queda anualizada dos lucros tenha sido ainda pior, os especialistas já esperavam por um resultado assim. E, como o mercado é feito mais de expectativas do que de realidades, as ações até subiram um pouquinho depois da divulgação do balanço.
Mas a verdade é que o sangue do Bradesco e do Santander pingou na lona e mostrou guerreiros com dificuldade de entender os caminhos para voltar a lutar como antes.
Nessas horas, quando queremos medir capacidade de reação a uma pancada, olhamos para o ROE, a medida de quanto o banco consegue ganhar a partir do patrimônio que tem (a sigla é para retorno sobre patrimônio líquido, em inglês). Quanto maior o indicador, mais lucrativa é a operação e, logo, mais chances de ela voltar ao ringue mais rápido.
O ROE do Bradesco está em 9,4%, o do Santander, 10,3%. Ambos parecem terríveis perto de seus concorrentes Itaú (18,3%) e BTG Pactual (20,1%).
Além do choque com o caso Americanas, que obrigou os bancos a provisionarem mais bilhões para calotes, o Brasil segue no seu processo que se apelidou de “financial deepening” —o aprofundamento financeiro. Em resumo, é o aumento da oferta de serviços e produtos financeiros à população.
A concorrência para os bancos aumenta a cada nova startup do setor, ou fintech. E a resposta deles tem sido, muitas vezes, excessivamente cara ou demorada. Como se diz no jargão: mudar a direção de um transatlântico é mais difícil do que virar um caiaque. Poucos gigantes souberam se remodelar, enquanto os outros têm agências que remetem aos anos 1990.
Quem tem dinheiro no caixa busca o caminho da consolidação. Nesta semana, por exemplo, o Safra comprou a Guide Investimentos, corretora independente, que ocupava o quarto lugar entre as maiores do Brasil. Logo antes disso, em dezembro, a Empiricus, que já era do ecossistema do BTG, entregou a operação de sua corretora de vez para as mãos do banco.
Quando os independentes estão achando mais vantajoso vender (ou passar a chave adiante) e os tradicionais estão batalhando para encontrar lucratividade, fica claro que o setor está em uma transformação significativa, com poucas certezas e muito dinheiro mudando de mãos. (Fonte: Folha de SP)
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