O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) subiu nesta quarta-feira (4) a meta para os juros básicos (Selic) em novo 1 ponto, aos 6,25% ao ano. Sem surpresas, portanto, foi repetida a dose do encontro anterior e cumprido o plano estabelecido 42 dias atrás.
Para a próxima reunião, foi antevista nova alta de “mesma magnitude”. Ou seja, a Selic deve caminhar daqui a seis semanas para 7,25% ao ano.
A decisão da autoridade monetária foi unânime, e praticamente em linha com todo o mercado. Das 107 instituições consultadas pelo Valor, apenas 15 fugiram do 1 ponto em suas apostas. Dessas, 13 seguiam apegadas ao 1,25, e duas aos 1,50 ponto percentual de ajuste.
Faz pouco mais de uma semana, no entanto, a alta confirmada pelo Banco Central (BC) nesta noite não combinava com maioria dos projeções nas planilhas. Diante da inflação de agosto beirando os 10% ao ano e acima das expectativas mais pessimistas, projeções de bancos e casas de análises vinham sendo erguidas quase todas para um aperto acima de 1 ponto.
Contribuía para esses teses a incapacidade de o plano de voo escolhido pelo BC faz mês e meio ter sido incapaz de reaver o controle das expectativas do mercado. Em outras palavras, credibilidade.
Para o “horizonte relevante” de 2022, por semanas que se arrastam desde quando a Selic ainda estava nos 4,25% ao ano, projeções para a inflação ao ano sistematicamente se afastam da meta de 3,5%. Na última pesquisa Focus, subiram para 4,10%. E a despeito de a estimativa para a Selic ter sido erguida para 8,50% ao ano, o que deprimiu a expectativa de crescimento da economia para 1,63%.
No entanto, o presidente do BC jogou água na fervura das apostas de alta da Selic de mais de 1 ponto. E evitou, assim, que o mercado se surpreendesse neste noite. Numa “mensagem importante”, Roberto Campos Neto disse que levará juros “para onde precisar levar”, demonstrando que o limite para o fim do ciclo de ajustes pode até mesmo ser o céu. Mas que, até chegar lá, não deve haver aceleração no ritmo de alta já definido, porque o BC não reagirá “sempre [à divulgação de] dados de alta frequência.”
De modo a evitar especulação como a das últimas semanas sobre a aceleração da alta de juros até sabe-se lá onde, em que o BC precisou vir a público desfazer, foi escrito que “no atual estágio do ciclo de elevação de juros, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação”. Dessa forma, ao que parece, é dada ainda mais clareza à mensagem recente de Campos Neto. E algo muito fora da curva precisará acontecer para a Selic subir em mais de 1 ponto em 42 dias.
Além disso, para o mercado financeiro local, renda fixa pagando melhor significa menor poder de relativo de sedução para a renda variável. Algo que já tem sido observado mesmo antes da alta na Selic praticada nesta noite. Já para o mercado financeiro internacional, a renda fixa no Brasil passa oferecer retorno pouco mais alinhado à sorte de riscos oferecidos pelo país. Mais dólares podem ser atraídos ao país ou menos afugentados. O que, por sua vez, vai na direção de controlar o canal cambial da inflação ao agir como força redutora de seu preço em reais.
A meta do Banco Central neste ano é entregar uma variação média dos preços medida pelo IPCA de 3,75% em 12 meses, com intervalo de tolerância de entre 2,25% e 5,25%. Já foi para o vinagre. Para 2022, foco total do BC desde já, é de 3,50%, com banda entre 2,00% e 5,00% ao ano.
Em sua 241ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 6,25% a.a.
A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
No cenário externo observam-se dois fatores adicionais de risco para o crescimento das economias emergentes. Primeiro, reduções nas projeções de crescimento das economias asiáticas, refletindo a evolução da variante Delta da Covid-19. Segundo, o aperto das condições monetárias em diversas economias emergentes, em reação a surpresas inflacionárias recentes. No entanto, os estímulos monetários de longa duração e a reabertura das principais economias ainda sustentam um ambiente favorável para países emergentes. O Comitê mantém a avaliação de que questionamentos dos mercados a respeito dos riscos inflacionários nas economias avançadas podem tornar o ambiente desafiador para países emergentes;
Em relação à atividade econômica brasileira, a divulgação do PIB do segundo trimestre, assim como os indicadores mais recentes, continua mostrando evolução positiva e não enseja mudança relevante para o cenário prospectivo, o qual contempla recuperação robusta do crescimento econômico ao longo do segundo semestre;
A inflação ao consumidor segue elevada. A alta nos preços dos bens industriais – decorrente de repasses de custos, das restrições de oferta e do redirecionamento da demanda em direção a bens – ainda não arrefeceu e deve persistir no curto prazo. Ademais, nos últimos meses os preços dos serviços cresceram a taxas mais elevadas, refletindo a gradual normalização da atividade no setor, dinâmica que já era esperada. Adicionalmente, persistem as pressões sobre componentes voláteis como alimentos, combustíveis e, especialmente, energia elétrica, que refletem fatores como câmbio, preços de commodities e condições climáticas desfavoráveis;
As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;
As expectativas de inflação para 2021, 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 8,3%, 4,1% e 3,25%, respectivamente; e
No cenário básico, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de USD/BRL 5,25*, e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom situam-se em torno de 8,5% para 2021, 3,7% para 2022 e 3,2% para 2023. Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 8,25% a.a. neste ano e para 8,50% a.a. durante 2022, e reduz-se para 6,75% a.a. em 2023. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 13,7% para 2021, 4,2% para 2022 e 4,8% para 2023. Adota-se a hipótese de bandeiras tarifárias “escassez hídrica” em dezembro de 2021 e “vermelha patamar 2” em dezembro de 2022 e dezembro de 2023. (Fonte: Valor Investe).