Imagine a situação: você pede um cartão de crédito junto a uma grande instituição financeira e ele chega na sua casa tempos depois, com entrega feita por transportadora. Você desbloqueia o cartão e minutos depois recebe uma notificação do banco de compra aprovada com sucesso. O problema é que você não fez nenhuma transação. Em contato com o banco, descobre que o chip do cartão que chegou na sua casa foi trocado em algum momento entre a saída da instituição financeira e sua casa, enquanto os fraudadores ficaram com o chip original.
Essa fraude aconteceu com Renata Colomby, 32, moradora de Lagoa Santa, na região metropolitana de Belo Horizonte. E não aconteceu só uma, mas duas vezes! Assim que ela desbloqueou o primeiro cartão de crédito, recebeu uma notificação de compra aprovada com sucesso. Ela contestou a compra no banco Bradesco, onde havia solicitado o cartão, e conseguiu bloqueá-lo.
Em conversa com a atendente, descobriu que se tratava de uma fraude de troca de chip – os criminosos tiram o chip original e colocam outro, falso, milimetricamente encaixado para que a vítima não perceba.
Quando o cartão chegou, o envelope estava perfeito, tudo bonitinho. Eu tirei o cartão de dentro da embalagem, porque ele vem colado naquele papel, e coloquei dentro da carteira. No dia seguinte, desbloqueei o cartão no aplicativo. Pouco tempo depois recebi a notificação de compra aprovada. Eu estava fazendo almoço”, relata.
“Quando liguei para contestar, me disseram que a compra foi feita com cartão físico, presencial, com chip e senha. Foi aí que peguei o cartão para olhar e percebi que o chip foi trocado. Atrás estava amassado, como se tivessem empurrado o chip”, conta. Segundo Renata, a senha do cartão foi criada por ela mesma por meio do aplicativo do banco. Ela não sabe dizer como os estelionatários poderiam ter acesso ao código.
Após o episódio, ela solicitou novo cartão – e este também chegou com chip colocado de forma estranha, sinalizando nova adulteração. Renata foi até a agência bancária com os cartões manipulados e foi informada pela gerente do banco que esse tipo de fraude tem sido recorrente, principalmente com clientes de cartão Black – o de Renata era na modalidade Platinum.
Ainda segundo a vítima, quando solicitou o cartão, foi-lhe entregue um código de rastreio para acompanhar a entrega por uma transportadora. De acordo com Renata, no rastreio da entrega aparecem apenas informações como “transferência para a cidade de destino” e “entregue ao destinatário”, sem especificar data ou horário.
“Não é uma entrega detalhada igual outras transportadoras de sites de compras que mostram os horários e dias que saiu pra entrega. Isso dá muita brecha para o desvio do cartão”, opina.
Em busca no site Reclame Aqui, denúncias parecidas são feitas contra o banco e a mesma empresa transportadora. Em uma reclamação, registrada em 13 de março de 2024, em Juiz de Fora, a denunciante diz que o cartão teve o chip trocado. “Tentaram fazer uma compra no cartão do meu marido de 8.000 reais e eu não consigo utilizar o cartão em nenhuma máquina de cartão e nem aproximação. Nitidamente da pra ver que o chip foi trocado e um obsoleto colado no lugar”, diz a denúncia.
A reportagem entrou em contato com o Bradesco para entender em que momento esse cartão pode ter sido interceptado e quais medidas de segurança o banco adota nesses casos.
O Bradesco afirmou que trata-se uma ação externa que não ocorre em ambiente do Banco. “Sempre que houver qualquer operação por meio de cartão que o cliente desconheça em seu extrato ou fatura, ele deve contatar o banco para abertura de contestação. Casos de roubo, perda e extravio do cartão devem ser comunicados imediatamente ao Fone Fácil Bradesco”, disse a instituição.
O Bradesco recomenda que, em casos de furto, roubo, fraude ou golpe, o ideal é fazer registro do Boletim de Ocorrência online ou na delegacia mais próxima. Disse ainda que os casos são analisados individualmente.
A equipe de O TEMPO também tenta contato com a transportadora Flash Courier, mas ainda não obteve resposta para o e-mail enviado.
Questionada sobre ocorrências de fraudes similares no Estado, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) disse que “não há campo parametrizado no Reds (antigo boletim de ocorrência) que permita filtrar esse tipo de golpe”. (Fonte: O tempo).