Os grandes bancos brasileiros projetam um ano de 2023 mais desafiador que o de 2022, marcado por eleições, inflação e juros em alta. Mas a inadimplência das pessoas físicas e o caso Americanas, além da Selic ainda alta, inspiram mais cautela que otimismo no setor.
Apesar das diferenças apresentadas nos resultados do quarto trimestre de 2022, as projeções feitas pelos gigantes do setor financeiro têm em comum um cenário de desaceleração do crédito e maior volume de dinheiro destinado à proteção contra a inadimplência.
O caso Americanas contribui para uma percepção mais cautelosa dos bancos, mesmo para Bradesco e Itaú, que já reservaram 100% de suas exposições para uma eventual inadimplência total da varejista.
O Santander não divulgou projeções de indicadores para o ano. Itaú Unibanco, Bradesco e Banco do Brasil colocam como base para 2023 crescimento de um dígito em suas carteiras de crédito, e aumento de pelo menos 20% em suas PDDs (provisões contra crédito de liquidação duvidosa).
O presidente do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho, recomendou que as companhias “diminuam seus níveis de endividamento” para enfrentar o momento atual de juros altos e incertezas.
O índice de cobertura na carteira de crédito do Itaú para grandes empresas subiu de 588% ao final de 2021 para 1.857% em dezembro de 2022. Este índice consiste em valores separados para se precaver contra atrasos maiores do que 90 dias no pagamento de empréstimos.
Segundo as projeções do Itaú, o custo do crédito, resultado das provisões contra inadimplência com desconto das renegociações e valores recuperados, pode superar os R$ 40 bilhões em 2023, ante pouco mais de R$ 30 bilhões no ano passado, quando já foi contabilizado o caso Americanas.
O Bradesco fez a maior reserva do setor para o caso Americanas, de quase R$ 5 bilhões. E foi um dos que tiveram sua exposição revista para cima, depois da divulgação da nova lista de credores. Os débitos da varejista aumentaram em cerca de R$ 300 milhões no documento mais recente.
Mesmo tendo reservado 100% da sua exposição, o Bradesco também projeta provisões maiores para 2023. O valor total pode chegar a quase R$ 40 bilhões, ante R$ 32,5 bilhões em 2022.
Este número sinaliza que a inadimplência geral deve aumentar ainda mais. No ano passado, os atrasos superiores a 90% fecharam em 4,3% da carteira, um avanço de 1,5 ponto percentual em 12 meses.
Sobre os números do Bradesco, os analistas do BTG Pactual dizem que os problemas da instituição não são causados somente pela Americanas. E por isso, a ação preferencial do banco caiu cerca de 25% em um ano.
“Recuperar a confiança leva tempo. Se o Bradesco estiver aberto para discutir seus erros do passado, e mostrar que seu guidance pode ser alcançado ao longo do ano, a ação pode começar a se recuperar”, diz o BTG. (Fonte : Folha de São Paulo).