(Por Maeli Prado , 6 Minutos – SP)
Em um cenário de pandemia, avanço da digitalização e pressão para redução de custos, os bancos encerraram as atividades de 399 agências e tiraram 726 caixas eletrônicos de operação no primeiro trimestre deste ano, dando continuidade a um movimento de enxugamento de estrutura física que vem se intensificando do ano passado para cá. No mesmo período, foram demitidos 2.900 funcionários, com destaque para escriturários e gerentes.
Dados do Banco Central mostram que, de dezembro de 2016 para cá, as instituições financeiras já fecharam as portas de mais de 4.000 agências bancárias, o equivalente a quase 20% do total que possuíam há cinco anos.
Somente de janeiro de 2020 para cá, 13,2 mil bancários foram desligados, segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) –o cadastro mudou a metodologia a partir de 2020 e não permite comparação com períodos anteriores.
Qual banco mais fechou agências neste início de ano?
Quem mais reduziu sua estrutura entre janeiro e março foi o Banco do Brasil, que entrou na mira do presidente Jair Bolsonaro exatamente após anúncio de um plano de demissões e fechamento de agências. Em março, o presidente-executivo do BB, André Brandão, renunciou ao cargo após pressões do governo para sua saída.
Os dados mostram que pelo menos parte desse plano realmente foi implementado. Diferentemente da Caixa, que manteve o mesmo número de pontos físicos de atendimento, o Banco do Brasil fechou as portas de 207 agências.
O elevado número de escriturários demitidos no período (2,1 mil) também apontam para uma aceleração no enxugamento de pessoal –essa ocupação é considerada como uma espécie de porta de entrada no banco.
Por que os bancos vêm fechando as portas das agências?
O ambiente dos últimos anos já era propício para esse encolhimento de estrutura por causa de três motivos: avanço da tecnologia, mais competição das fintechs e bancos digitais e a necessidade de redução de despesas administrativas.
A chegada do coronavírus ao Brasil, entretanto, foi a senha para as grandes instituições financeiras privadas do país apertarem o botão de fast foward nesse processo.
“Há uns cinco anos, já havia metas de fechamento de agências, pois os bancos operavam com uma estruturada inchada. Mas esse processo se acelerou com o avanço tecnológico: ficou fácil ter um celular, as pessoas entram no mundo online com mais facilidade de navegação”, afirma o economista e consultor especializado no setor financeiro João Augusto Frota, da Senso Corretora. “E isso ganhou um bom empurrão com a pandemia”.
Ele explica que esse movimento, além de ser inevitável, é estimulado pelos bancos, até porque os custos de funcionamento de uma agência bancária são bastante altos: aluguel, segurança, funcionários, luz, mobiliário e decoração, entre outros.
“Os bancos estimulam que os consumidores passem a usar serviços financeiros de forma online. Depois que os clientes acostumam, esse é um processo irreversível, com exceção de quem tem 70, 80 anos, para quem é mais difícil aderir à digitalização”, avalia Frota.
Por que o número de caixas eletrônicos também está diminuindo?
Há duas razões principais para isso. Em primeiro lugar, muitos caixas ficam localizados dentro das agências bancárias –se estas são fechadas, esses terminais automaticamente também deixam de funcionar.
Além disso, os bancões vêm apostando no uso da rede compartilhada do Banco24 Horas, o que permite dividir despesas, já que os custos de transporte do dinheiro, com toda a segurança e logística envolvidos no processo, são elevados.
Há um limite para esse processo de fechamento de agências?
Na avaliação de especialistas, sim, embora seja difícil avaliar qual o ponto de equilíbrio. Para a população de menor renda, menor escolaridade ou os mais idosos, por exemplo, são inúmeras as barreiras para um uso maior da tecnologia em substituição ao contato com atendentes e gerentes.
“Os bancos ainda não encontraram o ponto ótimo nessa curva, qual o limite de encolhimento no número de agências e funcionários”, avalia Frota, da Senso. (Fonte: 6minutos)
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