Os resultados dos bancos brasileiros no terceiro trimestre prometem trazer mais visibilidade sobre a qualidade do crédito dessas instituições. Os volumes devem manter crescimento acima de dois dígitos, com destaque para linhas de maior margem financeira. Por outro lado, a temporada tende a ser marcada por um aumento na inadimplência e nas provisões para cobrir eventuais calotes.
“Em nossa visão, os bancos estão bem preparados para enfrentar o maior nível de inadimplência que deve vir no segundo semestre e em 2023, já que o provisionamento permanece em patamares elevados, resultado das despesas extras de provisão feitas em 2020”, diz relatório da Eleven Financial.
Na visão dos analistas da casa, as instituições financeiras, de forma geral, têm adotado sistemas mais eficientes e melhores controles para conseguir uma gestão mais eficientes das carteiras.
“Historicamente, os bancos brasileiros têm uma melhor performance operacional quando há um ciclo de alta de juros. Isso impacta a margem financeira e a rentabilidade aumenta”, lembra Wesley Okada, chefe de análise de renda variável da Ace Capital.
Contudo, a expectativa é que haja uma deterioração na qualidade dos ativos, sobretudo no crédito para pessoas de baixa renda e pequenas empresas. Alguns bancos tendem a sentir isso mais do que outros.
“Banco do Brasil (BBAS3) e Itaú (ITUB4) parecem estar em um país, e Santander (SANB11) e Bradesco (BBDC3;BBDC4), em outro. Principalmente em termos de qualidade da carteira de crédito”, afirma Pedro Gonzaga, sócio da Mantaro Capital, gestora focada em renda variável.
Os últimos trimestres já vêm mostrando diferenças significativas de qualidade de carteira e inadimplência dos bancos, o que, historicamente, não costumava acontecer.
“Dado o tamanho desses bancos, uma diferença muito grande de qualidade de carteira não deveria ser tão duradoura”, diz Gonzaga.
Os analistas do Bradesco BBI acreditam que a originação de crédito deve desacelerar em linhas de maior risco, como empréstimos sem garantias. Isso deve ser sentido sobretudo na concessão de recursos a não correntistas, trazendo questionamentos sobre mix e crescimento das carteiras e das receitas com juros para ano que vem.
“Os créditos inadimplentes devem continuar se deteriorando, diante de um aumento de empréstimos a indivíduos e pequenas e médias empresas, levando a um custo de risco mais alto no terceiro trimestre”, diz o relatório do BBI.
Os analistas da casa calculam que as receitas dos bancos vão continuar crescendo, mas a qualidade do crédito será o principal tema do período. As atenções não vão estar voltadas somente aos indicadores mais tradicionais. Além de inadimplência e custo de risco, renegociações e venda de portfólios de crédito também estarão no radar.
O JPMorgan espera receitas líquidas com juros (NII, na sigla em inglês) fortes, spreads altos e volumes elevados. A casa observa que as ações dos bancos brasileiros estão entre as melhores performances do setor financeiro na América Latina em 2022, até agora. Por outro lado, acredita que a qualidade do crédito das instituições vai permanecer sob pressão, testando a capacidade dos bancos em absorver esse tipo de risco.
O primeiro grande banco da Bolsa a divulgar resultados trimestrais é o Santander. O balanço da instituição financeira será publicado na próxima quarta-feira (26). O consenso Refinitiv prevê lucro líquido reportado de R$ 3,652 bilhões, queda de 8,17% em relação ao trimestre imediatamente anterior.
A expectativa é que o crescimento da carteira de crédito do banco seja menor que a de seus concorrentes, reflexo da estratégia defensiva, de redução de riscos, do banco. Isso deve limitar também a receita da instituição com juros dos clientes.
“Esperamos números mais fracos pois a margem financeira líquida do banco aparenta estar relativamente sob pressão, enquanto seus custos de riscos devem continuar crescendo, potencialmente levando a uma pequena contração nos lucros”, escreveram os analistas do Bradesco BBI.
As margens de mercado do Santander devem seguir estáveis, nos cálculos da casa. “Enquanto isso, esperamos que as despesas com provisões aumentem, por conta do legado de portfólios de risco originados no final de 2021 e começo de 2022”, escreveu a equipe de análise.
O BBI também acredita que o banco deve apresentar um leve aumento da inadimplência e o nível de renegociações vai ser manter elevado, a exemplo do que ocorreu nos últimos trimestres. As receitas com tarifas devem crescer na ordem de 5%. Por outro lado, as despesas operacionais tendem a ser negativamente impactadas por um reajuste salarial de 8% concedido aos profissionais do setor bancário no último mês de setembro.
O Bradesco BBI prevê lucro recorrente de R$ 3,3 bilhões para o Santander no terceiro trimestre. O Goldman Sachs, por sua vez, acredita em um resultado acima do consenso de mercado, de R$ 3,8 bilhões. Mas avalia que o banco deve apresentar tendências mais fracas do que os seus principais pares, sobretudo em custos de gerenciamento de riscos e e receita líquida com juros. Por outro lado, os níveis de renegociação devem ser superiores aos dos concorrentes.
O Goldman também espera que as provisões para perdas com inadimplência do banco sigam pressionadas, atingindo algo em torno de R$ 5,9 bilhões.
“O Santander tem demorado a acompanhar seus pares em termos de crescimento em empréstimos, o que deve ter continuado no terceiro trimestre de 2022”, diz análise do UBS BB. A casa prevê lucro de R$ 3,7 bilhões para o Santander no período e ROAE de 18%, retorno menor que o registrado no trimestre imediatamente anterior, de 20,5%.
A equipe de análise do UBS BB aponta que a carteira de crédito do Santander cresceu apenas 1% no primeiro semestre de 2022 e mesmo que acelere no terceiro trimestre, o banco seguirá em desvantagem sobre a concorrência. A casa também explica que os lucros do banco tendem a ser menores que os do segundo trimestre, que foram pontualmente beneficiados por ganhos oriundos de reversões de disputas judiciais.
O Bradesco divulgará seu balanço trimestral no dia 8 de novembro, após o fechamento da Bolsa. O consenso Refinitiv prevê lucro líquido de R$ 6,514 bilhões no período. A cifra representa uma queda de 7,9% na comparação com o resultado do segundo trimestre.
O UBS BB prevê um número um pouco maior, de R$ 6,7 bilhões, e acredita que a carteira de crédito do banco deve crescer de forma “decente”, com avanço de 2,9%, na comparação trimestral, e de 12% na anual. Também prevê uma expansão de 3,8% na margem financeira líquida entre os períodos, com spreads maiores e um mix de empréstimos mais arriscado. Por outro lado, prevê que a inadimplência chegue a 3,8%, acima do nível pré-pandemia.
No quesito inadimplência em pequenas e médias empresas, o risco é maior para o banco, segundo os analistas do JP Morgan. Esse tipo de financiamento corresponde a 25% da carteira de empréstimos do Bradesco.
“Esperamos que a inadimplência do Bradesco se deteriore de forma mais rápida do que em seus pares”, escreveram os analistas do JP. A casa prevê lucro líquido de R$ 6,395 bilhões para o banco no terceiro trimestre, queda anual de 5% e de 9% na comparação com o segundo tri.
O JP Morgan avalia que quase um terço dos resultados mais recentes do Bradesco, referentes ao segundo trimestre, foram suportados por itens não recorrentes. Ainda que esse tipo de situação seja normal em bancos, as chances de que se repita é mais difícil.
Recentemente, o banco cortou recomendação para o papel BBDC4, de compra para neutra, mas manteve preço-alvo de R$ 22 para o final de 2023. O JP também usou como justificativa relatórios de empréstimos do Banco Central, que apontam um período mais desafiador para o Bradesco em termos de qualidade de ativos.
Em relatório do Itaú BBA, os analistas escreveram que “jogaram a toalha” em relação ao Bradesco. A casa reduziu suas projeções para o banco em 2022 e 2023, rebaixando também sua avaliação a market perform. O preço-alvo passou de R$ 23 para R$ 21 para o final do ano que vem. O BBA diz que houve deterioração na qualidade de crédito do Bradesco e nas receitas líquidas com juros do banco.
“Tínhamos pouca convicção em avaliar o Bradesco como outperform desde o primeiro trimestre de 2022, sempre buscando sinais de melhora nos trimestres seguintes. Mas agora desistimos, esperando um outro conjunto de resultados fracos”, escreveram os analistas da casa.
A deterioração da qualidade das ativos do Bradesco também foi observada pelos analistas do Goldman Sachs. Eles projetam um crescimento trimestral de 4% no volume de crédito do branco, mas também uma piora na inadimplência até o final do ano.
O Goldman projeta lucro de R$ 7 bilhões para o Bradesco no terceiro trimestre e retorno sobre capital próprio (ROE) de 18%, números parecidos com o do segundo tri. “Os investidores devem focar na qualidade dos ativos, que teve performance pior que a da concorrência”.
O Banco do Brasil apresentará seu balanço trimestral no dia 9 de novembro.
É o resultado que deve vir mais forte entre os bancos analisados pelo Bradesco BBI. A casa prevê lucro líquido de R$ 7,7 bilhões, cifra praticamente idêntica à reportada no segundo trimestre.A casa explica que esse desempenho deve ser amparado por uma expansão robusta da margem financeira líquida com clientes e com mercados. Esse movimento reflete, segundo os analistas, um melhor mix, menores custos de financiamento e taxa Selic em nível elevado.
Para o BBI, a margem financeira líquida do banco deve, inclusive, compensar uma alta significativa nos custos com provisões para cobrir a piora na qualidade de empréstimos pessoais e a normalização dos custos de riscos, que vinham de níveis atipicamente baixo na primeira metade do ano.
“Além disso, as receitas com tarifas devem vir fortes com taxas de administração de fundos e contas correntes, compensando, parcialmente, o aumento das despesas operacionais com aumento de salários”, escreveram os analistas do BBI. ,
O Itaú BBA também espera que o banco apresente os melhores resultados trimestrais entre as grandes instituições financeiras listadas na Bolsa e prevê lucro de R$ 7,9 bilhões, com ROE de 20%.
O Goldman Sachs prevê retorno sobre capital um pouco menor, saindo de 21% no segundo trimestre para 19% no terceiro. Também projeta lucro menor que o calculado pelas outras casas, de R$ 7,3 bilhões, ficando portanto abaixo do resultado do segundo trimestre. Para os analistas, os resultados devem refletir um aumento nas provisões para inadimplência na ordem de 61%, na comparação trimestral.
Contudo, o BB é o que deve exibir melhor qualidade de ativos, com baixa inadimplência em empréstimos agrícolas e corporativos. Além disso, a receita líquida com juros deva crescer 5% na comparação trimestral e 14% na anual. “Esperamos que o banco não só se beneficia com uma mudança no mix, mas juros mais altos dando suporte aos seus ativos e garantias”, escreveriam os analistas do Goldman.
O Itaú Unibanco será o último dos bancões a apresentar resultados. O balanço da instituição financeira no terceiro trimestre vai ser divulgado no dia 10 de novembro. O consenso Refinitiv prevê lucro líquido reportado de R$ 7,816 bilhões no período, crescimento de 4,8% na comparação com o segundo tri.
“Acreditamos que os resultados do Itaú vão continuar com tendência de receitas fortes, assim como em trimestres anteriores, enquanto a qualidade de ativos pode continua se deteriorando – porém em menor ritmo que os seus concorrentes”, avalia o UBS BB. A casa acredita que o lucro do banco chegue aos R$ 8 bilhões e com ROE de 22%, superior aos 20,8% registrados um trimestre antes.
Para a equipe de análise do UBS BB, os empréstimos totais do banco devem crescer 16,9% na comparação anual (e 4,5% na trimestral), com o crédito para varejo seguindo robusto. “O banco pode continuar reduzindo seu apetite por tomadores de baixa renda para focar em clientes de maior liquidez”.
A margem financeira líquida, que se recuperou de forma notável nos últimos trimestres, segundo o UBS, devem se manter nesse mesmo ritmo no terceiro tril. O guidance do Itaú aponta para uma expansão de 25% a 27% nessas margens em 2022. Para o UBS, a dinâmica aponta para boas perspectivas também para 2023. Uma piora na inadimplência do banco também é esperada, o que também deve ser repetir nos próximos trimestres.
O Bradesco BBI também acredita que margens financeiras fortes vão continuar impulsionando o lucro do Itaú, ainda que em ritmo de crescimento menor. E, da mesma forma, chama atenção para o fato de que as despesas com provisões devem continuar expandindo com a piora na qualidade de crédito, sobretudo em operações sem garantia, como cartões de crédito e empréstimos pessoais.
Por outro lado, o BBI acredita que a qualidade de empréstimos no corporativo deve continuar controlada, ainda que as linhas para pequenas e médias empresas mostrem alguma volatilidade. Receitas com tarifas devem crescer de forma moderada em seguros e cartão de crédito, ao passo que despesas operacionais também podem se expandir com os ajustes salarias do setor.
O BBI prevê lucro líquido recorrente de R$ 8,1 bilhões para o Itaú no terceiro trimestre.
Fonte: Infomoney
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