Centenas de brasileiros voltaram a enfrentar longas filas nesta quinta-feira nos postos do Cadastro Único para tentar atualizar ou cadastrar suas informações na base de dados do governo. A inscrição no CadÚnico é um dos critérios para a concessão de benefícios de programas sociais do governo federal às famílias de baixa renda, a exemplo do Auxílio Brasil.
Quem tem dados desatualizados recebeu aviso via aplicativo que precisava corrigir as informações até a próxima sexta-feira, sob risco de perder o benefício. Por isso, nos últimos dias, há enormes filas para atendimento nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) de várias cidades do país.
Para realizar o procedimento, é preciso fornecer dados como renda, situação de trabalho, endereço ou quantidade de membros da família.
No CRAS de Guaratiba, na Zona Oeste do Rio, as primeiras pessoas da fila chegaram por volta das 13h de quarta-feira e aguardaram 18 horas de espera até a abertura do posto, às 7h desta quinta-feira. Muitas pessoas dormiram em cadeiras de praia, pedaços de papelão e levaram filhos pequenos para enfrentar a fila.
Logo após a abertura do posto de Guaratiba, uma funcionária avisou que seriam atendidas 100 pessoas, pois não tinham como ampliar este número porque não há funcionários suficientes.
Diante dessa situação, muitos beneficiários reclamaram e aqueles que não conseguiram senha para atendimento já se preparavam para aguardar no local o expediente de sexta-feira.
A dona de casa Luana Souza chegou ao CRAS de Guaratiba às 21h de quarta-feira e não dúvidas se conseguiria ser atendida ainda hoje.
– Se dá meio-dia e eles atendem 90 pessoas, não atendem mais ninguém. Tem que ir para casa. Já tem gente na fila para amanhã [sexta].
A idosa Cleonice dos Santos estava indignada e chorou diante da situação:
– Eu tô cansada! Vou fazer 60 anos. Não precisava estar nisso! Pedem um papel, eu trago. Pedem outro, eu trago. Tenho três netinhos para dar comida. É velho, é idoso… tudo na fila dependendo disso. Isso revolta.
Luana de Paula teve de levar o filho de colo para passar a noite ao relento e garantir um lugar na fila.
– Estou aqui desde a meia-noite. É a nossa segunda vez aqui e não conseguimos. E é só para dizer que mudei de endereço – contou, afirmando que o bebê foi picado por mosquitos e formigas:
– Ele tá todo empolado.
No meio da manhã, houve confusão na fila. Um homem iniciou uma discussão e agrediu um idoso, que chegou a cair no chão. Ele foi contido, mas continuou gritando e discutindo com outras pessoas.
Em Natal, na unidade do CadÚnico da Ribeira, Zona Leste, beneficiários ao Auxílio Brasil e de outros programas sociais, que passaram horas em uma fila, voltaram para casa sem atendimento. Isso porque apenas 30 fichas foram distribuídas.
Os beneficiários reclamam que não conseguem agendamento para atualizar dados cadastrais e nem realizar as mudanças pelo aplicativo divulgado pelo município.
A auxiliar de cuidador Maria José chegou às 6h da manhã, mas não conseguiu uma das fichas distribuídas. Ela disse que essa foi a quarta tentativa desde a semana passada.
A dona de casa Francily Carla afirma que tenta atualizar o cadastro desde março. Ela foi à unidade da Ribeira para tentar o atendimento, por não ter conseguido no bairro onde mora, na Zona Norte da capital, mas foi em vão, já que deixou o local sem a atualização dos dados.
– Não só eu, muitas pessoas. E o serviço social diz que só vai pelo aplicativo. Dizem que só consegue pelo serviço social se o benefício for cortado. A gente vai esperar que seja cortado para poder resolver?- questiona Francily.
Em Salvador, beneficiários de programas sociais do governo formam uma extensa fila na frente da Secretaria Municipal de Promoção Social e Combate à Pobreza (Sempre) desde as primeiras horas desta quinta-feira.
Segundo o Ministério da Cidadania, 1,4 milhão de famílias inscritas no CadÚnico em todo país foram convocadas para atualizar o cadastro, sendo 757 mil beneficiárias do Auxílio Brasil. Em setembro, cerca de 263 mil famílias ainda não tinham feito esta atualização.
O prazo inicial acabaria em 15 de julho, mas foi prorrogado para 14 de outubro pelo Ministério da Cidadania, responsável por coordenar o Auxílio Brasil.
A atualização cadastral deve ser feita a cada dois anos ou sempre que houver alguma alteração nas informações.
Os beneficiários podem verificar se seus dados estão desatualizados ou mesmo se as informações já fornecidas estão sendo confrontadas com outras bases de dados administrativos federais por meio do aplicativo do CadÚnico, disponível para download na página da Cidadania.
Caso não tenha ocorrido nenhuma alteração nas informações prestadas na última entrevista, a família beneficiária poderá também fazer a confirmação dos dados pelo aplicativo do Cadastro Único. Porém, se for preciso alterar algum dado, é necessário comparecer a um posto de cadastramento para uma nova entrevista de atualização cadastral. (Fonte: G1).