Um fenômeno no trabalho do setor bancário dos últimos anos, afetado pelas plataformas digitais e outras novas tecnologias denunciado pelo movimento sindical, a chamada “uberização” do emprego, é confirmado por uma análise do economista Márcio Pochmann, doutor em ciências econômicas pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
O ramo financeiro passou a diversificar os tipos de ocupação, reduzindo drasticamente a contratação de bancários, com direitos trabalhistas e conquistas previstas na Convenção Coletiva de Trabalho da categoria e representação sindical, como gerentes, escriturários e caixas. A informação foi publicada pela TV Diálogos do Sul.
Tecnologia e precarização
O crescimento de fintechs e do processo de terceirização no sistema financeiro mostram números assustadores da precarização do trabalho bancário: a contratação feita diretamente pelos bancos sofreu redução violenta entre 1988 e 2014, encolhendo para 850 mil ocupações, segundo comparação feita por Márcio Pochmann, da Fundação Perseu Abramo. Em contrapartida, houve uma ampliação de empregos nos bancos, mas com outras formas de contrato, como terceirizações, que segundo o economista fazem com que os empregadores “maqueiem e amenizem” o desemprego no Brasil.
“Os terceirizados não são bancários, mas executam um trabalho no ramo financeiro”, explica Pochmann, citando o trabalho dos chamados “consultores de bancos”. De acordo com ele, há hoje mais de 100 mil trabalhadores envolvidos nesse ofício não apenas nos bancos, mas também em financeiras. “Há ainda uma quantidade enorme de pessoas que prestam serviços para o setor financeiro, como pagamento de contas, por exemplo, realizados até no âmbito de agências lotéricas, os chamados correspondentes bancários”, acrescenta.
A tecnologia é utilizada para trazer, através da inovação, facilidades para o consumidor. Mas por trás deste álibi está a razão central destas transformações no capitalismo: reduzir custos, eliminando empregos formais para aumentar ainda mais os lucros das empresas.
As fintechs, a maioria sem autorização do Banco Central para funcionar, são um exemplo típico desta “inovação”, responsáveis também pela ampliação de empregos precarizados e redução do modelo tradicional de contratação no sistema financeiro. Fato é que a forma violenta de avanço da tecnologia tem resultado em fechamento de agências bancárias físicas e demissões em massa, ameaçando uma categoria em seu padrão tradicional, com direitos e Convenção Coletiva em processo de extinção.
A mentira dos bancos
Os bancos, alegando necessidade de concorrência com as fintechs, se apressam em fechar unidades, como foi o caso do Banco Mercantil do Brasil (BMB), que fechou suas agências e todas as suas atividades no estado do Rio de Janeiro, deixando trabalhadores na rua da amargura. Mas o argumento dos banqueiros de que a “concorrência” com fintechs e novas plataformas digitais, como Creditas, XP e Nubank para justificar o fechamento de agências não condiz com a verdade. Primeiro porque muitas dessas novas empresas vendem produtos dos grandes bancos, como Itaú, Bradesco e Santander.
startup Creditas, por exemplo, tem entre seus investidores, o grupo espanhol Santander. O Next encerrou o primeiro semestre de 2020 com 2,7 milhões de contas, sendo que 76% deste total é formada por clientes do Bradesco. Já o Itaú Unibanco tem sua própria plataforma para pagamento de contas e operações financeiras: a iti.
Os gigantes do sistema financeiro estão fazendo tanto barulho para nada. Na verdade são os grandes bancos que estão mandando nas operações do sistema financeiro nacional e não por acaso o Brasil tem quatro dos dez bancos mais lucrativos do mundo.
O Sindicato do Rio tem feito o que pode para defender os empregos e esta é uma das prioridades da campanha nacional da categoria deste ano. A entidade sindical vem buscando mediação do Ministério Público do Trabalho e reintegrando bancários do setor privado através de ações de seu Departamento Jurídico na Justiça do Trabalho. (Fonte: Seeb/Rio).