Presidentes de bancos avaliam que o pacote fiscal que o governo deve anunciar em breve, antes de tudo, precisa ser crível, e que as pessoas recebam as medidas e avaliem que elas são viáveis de serem cumpridas. Sem citar um número específico para corte de despesas, eles defendem que haja um corte de despesas “como um todo”, no governo.
O que vejo como essencial é que o pacote seja crível. Que as pessoas recebam as medidas e digam isso é viável, não depende apenas de passar pente fino em benefícios. Que seja um corte de despesas como um todo — disse José Berenguer, CEO do Banco XP, durante sua participação no evento Global Voices, em São Paulo, promovido pela Confederação Nacional do Comércio (CNC).
Berenguer afirmou que o corte de gastos é um processo que acontece também com empresas quando fazem seus orçamentos e precisa apertá-los. Berenguer disse que o engessamento do Orçamento brasileiro é brutal e essa tarefa fica ainda mais difícil. Para ele, o Brasil tem capacidade de se diferenciar do resto do mundo (que está gastando mais) e tem uma situação fiscal complicada.
— Está aí a oportunidade de nos diferenciar. O esforço fiscal que é feito no Ministério da Fazenda é digno de ser ressaltado. Outros ministérios querem gastar e a Fazenda opera nos limites fiscais.Por isso, se o pacote fiscal for crível e executável vai haver uma acomodação desse nervosismo do mercado — afirma.
Ele lembrou que quanto mais dúvidas existem em relação ao quadro fiscal do país, o prêmio de risco do país sobe e as empresas pagam mais juros — disse Berebguer, afirmando que se o país conseguir se diferenciar dos demais no âmbito fiscal tem mais chance de retomar o grau de investimento, que é o objetivo desse governo, e volta a atrair o investimento.
Para Bruno Funchal, CEO do Bradesco Asset Management, é preciso atacar o principal problema do orçamento, que é o excesso de despesa obrigatória. Ele lembra que esse engessamento de despesas foi feito “por Congressos anteriores”, e é o principal problema.
— Haddad tem falado em harmonizar o arcabouço nas questões de gastos. Não pode ter despesa subindo mais do que determina o arcabouço. O arcabouço tem que parar de pé, ter credibilidade e a incerteza da trajetória da dívida se dissipa. Com isso, é menor o prêmio de risco e os juros — disse.
Para o próximo ano, os executivos destacaram que uma das perspectivas no radar é de uma pressão inflacionária persistente, o que vai exigir mais do governo brasileiro em termos de redução de prêmio de risco.
Uma das dúvidas, ressaltou Funchal, é até que nível o presidente eleito nos EUA, Donald Trump, irá implementar as medidas que prometeu em campanha, como deportação em massa e aumento de tarifas:
—É dificil que seja realmente executado (da forma como foi apresentado). Se você coloca barreira tarifária, deporta pessoas, é muito inflacionário. Aumenta preço dos insumos, da mão de obra e aumenta juros, o que reflete no Brasil — afirmou o presidente do Bradesco Asset Mangement, que acrescentou que essa perceptiva pode afetar o câmbio brasileiro e, na ponta, o ciclo de juros.
Com cenário de mundo com juros altos, o Brasil precisa ter capacidade de demonstrar credibilidade, acrescentou Alcalay, do Bank of America, o que deve ser fator determinante para a trajetória do câmbio.
As bets estão absorvendo a poupança e o poder de compra dos brasileiros e, se isso é ruim, para o mercado financeiro é ruim para o país, disse Eduardo Alcalay, CEO Bank of America. Para ele, esse dinheiro gasto em apostas poderia ser investido em poupança.
— Com as bets, quase 100% do dinheiro apostado vai embora. Esse mercado precisa ser bem regulado. É uma experiência que o Brasil passou a tatear, precisa andar, cair um pouco e depois corrigir o rumo. O brasileiro tinha que estar sendo educado a poupar e não apostar — criticou. (Fonte : O Globo).