Pouca gente percebeu, mas o acordo bilateral entre Brasil e China para comercialização entre os dois países sem o uso do dólar pode representar uma nova ordem mundial liderada pelos chineses e que, por isso, a decisão tem incomodado tanto o governo dos EUA e a grande mídia. A proposta visa reduzir a influência da moeda americana no mercado global e que os países comercializem em suas próprias moedas. A mudança torna justo um preceito: ganha mais, quem produz e vende mais, comercializando em moeda local, o que levará a uma possível valorização dessas moedas nacionais e o fim da dependência cambial absoluta do dólar americano. Antes da segunda guerra mundial a referência comercial mundial era o ouro. Com a Europa devastada pelo conflito e a divisão do mundo em dois blocos, o capitalista liderado pelos americanos e o comunista tendo à frente a então União Soviética, o governo americano condicionou o dólar como moeda comercial do planeta, injetando mais de US$12 bilhões para reconstrução e modernização das nações europeias em ruínas. Isto representou um salto para que os EUA consolidassem, junto com o fortalecimento de seu mercado interno, como a maior potência do século XX.
O salto do dragão
A decisão do governo brasileiro de atender à proposta chinesa, além de fortalecer o real e a economia do país, fortalece o laço diplomático e econômico do Brasil com seu principal parceiro comercial. A China é o maior comprador das comoddities brasileiras e representa mais de 20% do que nossa economia importa e 30% de nossas exportações.
O avanço da economia chinesa no mundo, que caminha a passos largos para se firmar como a maior potência econômica do mundo, é dado por especialistas quase que como um fato irreversível. Com toda a crise causada pela covid-19 e pela guerra na Ucrância, o país deverá crescer 5,% em 2023. Há 12 anos o país está consolidado oficialmente como a segunda maior potência econômica do mundo.
Números comprovam
Paulo Gala, Graduado em Economia pela USP (Universidade do Estado de São Paulo). Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas, garante que a China pode, sim, ser considerada, a maior economia do planeta. Ele cita números na comparação brasileira, lembrando que o Brasil em 1980 exportava cerca de US$20 bilhões enquanto a China não passava de US$18 bi e a Coreia do Sul também em torno de US$18 bi. Atualmente os chineses são os maiores exportadores do mundo, chegando a extraordinária cifra de mais de US$2 trilhões, superando os EUA, Alemanha e Japão, enquanto que as exportações brasileiras não passam de US$230 bilhões. A Coreia do Sul alcança cerca de US$700 bi. Em 40 anos a China multiplicou suas exportações em 100 vezes, enquanto o Brasil cresceu pouco mais de 10 vezes.
“Este crescimento da economia chinesa vem acompanhado de uma extraordinária sofisticação tecnológica”, explica Gala.
Se o câmbio desvalorizado é o calcanhar de aquiles dos chineses, o que leva os EUA a terem um PIB (Produto Interno Bruto) maior devido à valorização do dólar, o projeto de redução da influência da moeda americana no mercado internacional, pode mudar de vez a disputa das duas maiores potências.
“A preço de mercado, devido à desvalorização da moeda chinesa, parece que o PIB da China é menor do é na realidade. Uma análise mais equilibrada, sem esta questão cambial, a China já é a maior potência do mundo. A produção industrial chinesa já está em US$4 trilhões, o dobro do que produz os EUA”, explica o acadêmico.
Para quem tem a imagem de que o país, que já foi uma potência do planeta na antiguidade até o século XV, tem seu desenvolvimento explicado por um baixo custo-trabalho, o governo chinês está dando um salto também no mercado interno, com o objetivo de criar a maior classe média consumidora do mundo. No setor industrial, por exemplo, o salário médio dos trabalhadores já é maior do que no Brasil, triplicando sua renda per capita.
“A China ainda não é maior potência plena porque ainda está chegando na fronteira tecnológica mundial, mas já está avançando para o domínio tecnológico e um exemplo disso é o 5G e os submarinos de propulsão nuclear”, acrescentou.
Para o professor uspiano justificativas para o desenvolvimento chinês como a de que o país “tem trabalho escravo, não respeita patentes e direitos de propriedade intelectual e nem padrões ambientais” são mitos ocidentais que fazem parte da disputa de narrativa nas mídias.
A guerra da Ucrânia
Não é ao acaso e nem para defender a soberania da Ucrânia ou a paz na Europa que os EUA investiram quase US$80 bilhões na guerra contra a Rússia, em armas de última geração e que generais e militares americanos, alemães e britânicos da OTAN estão no front comandando o exército ucraniano e milhares de mercenários, conforme comprovam os documentos da CIA, a central de Inteligência, que foram, vazados recentemente. A Casa Branca, que não quer nem ouvir falar em acordo de paz, quer derrotar o exército vermelho para tentar derrubar o presidente Vladmir Putin e a economia russa, e tentar eleger um candidato alinhado aos seus interesses nas próximas eleições e, se preciso, fomentar manifestações populares nas ruas para um golpe de estado, a fim de garantir a continuidade da hegemonia do dólar e de sua economia no mundo. Derrotar Moscou no conflito tem papel crucial no projeto do governo americano a fim de frear o avanço da economia chinesa no mundo, que junto com Moscou, nações da Ásia e dos Brics, tentam reduzir a influência e participação comercial do dólar. Afinal, para manter-se como maior potência mundial, é imprescindível a hegemonia de sua moeda no mercado global, para que o Banco Central americano possa continuar a emitir mais de 2 trilhões de dólares externamente, sem resultar um dígito sequer de inflação na economia interna americana e o PIB mundial continuar a ser maquiando e esconder o que já é uma realidade: em produção e exportação, a China já é a maior potência deste século XXI.
Fonte: O povo
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