Financiar um imóvel sem sair de casa e em menos de duas semanas é uma realidade que avança em bancos privados do Brasil. As instituições aumentam seus investimentos em trâmites 100% digitalizados para reduzir o tempo de negociação e a burocracia.
A celeridade do processo deve atingir todos os bancos com a unificação dos cartórios, prevista para ser concluída ainda neste semestre. Pelo Sistema Eletrônico dos Registros Públicos (Serp) será possível acessar de forma remota e eletrônica as informações dos cartórios brasileiros, além de fazer matrículas de imóveis, consultar dados de registros pessoais e cadastrar procurações.
“Os bancos estão se adaptando para que o processo [crédito imobiliário] deixe de ser físico para ser 100% digital. Atualmente, cerca de 20% dos financiamentos são eletrônicos. Ainda é muito presente a cultura do documento físico”, afirma Antonio Linhares, head da V/Hub, plataforma da Valid responsável pelos contratos digitais de duas das maiores instituições financeiras privadas do país.
Quem pega o crédito imobiliário pelo Bradesco no estado de São Paulo pode assinar o contrato de financiamento, enviar documentos e transferir o imóvel para o seu nome de forma totalmente remota. Por meio de um aplicativo, as partes envolvidas assinam digitalmente e acompanham todo o processo.
Segundo o diretor-executivo do Bradesco, José Ramos Rocha Neto, com a assinatura digital o banco prevê reduzir em até 65% o prazo médio -atualmente estimado em 28 dias na capital paulista- entre a assinatura do contrato, a realização do registro de transferência do imóvel no cartório e o pagamento ao vendedor.
A média nacional para bancos liberarem o financiamento de um imóvel é de 40 dias, segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
O Santander afirma que, hoje, todo o processo em suas agências leva em média 12 dias, contados do envio da documentação até a emissão do contrato.
“Inclui aprovação do crédito no mesmo instante; emissão do laudo do imóvel no mesmo dia, realizado por inteligência artificial; e uso de tecnologia de reconhecimento de dados para preenchimento do contrato”, afirma, em nota.
Há três anos oferecendo a contratação do crédito imobiliário de forma digital, o Santander afirma que, agora, está investindo e desenvolvendo ferramentas para digitalizar a assinatura e enviar o contrato aos cartórios.
Sem detalhar dados, o Itaú Unibanco afirma ter “avançado significativamente na digitalização dos produtos e serviços dentro do segmento imobiliário, desde a contratação de um financiamento, que vai da assinatura digital ao registro eletrônico, até o pós-venda”.
Entre os bancos públicos, a Caixa oferece um aplicativo para contratar o financiamento habitacional, desde o cadastro até a aprovação. Segundo o banco, atualmente, 3 milhões de clientes acompanham e gerenciam seus contratos pelo aplicativo.
“A alternativa traz comodidade ao cliente, que poderá acompanhar de perto todas as etapas do seu processo habitacional de forma simples e intuitiva e, se necessário, resolver pendências pelo próprio aplicativo”, diz a Caixa, em nota.
O coordenador de engenharia de TI Aristides Messias Junior, 43, assinou seu contrato imobiliário por aplicativo em dezembro do ano passado. Ele comprou uma casa na planta por quase R$ 2 milhões sem assinar um papel físico, correr atrás de documentação ou ir a um cartório.
“Após o time responsável pelo contrato me enviar a documentação, demorou mais a minha parte, que era ler todo o contrato. Depois que fiz essa conferência, a minha assinatura na plataforma foi coisa de segundos”, disse à Folha de S.Paulo.
“Consegui acompanhar todas as etapas do processo e também as assinaturas de todos os envolvidos, houve rapidez para isso”, afirmou Messias Junior.
O crescimento da contratação digital é limitado para além da cultura do documento em papel. A facilidade esbarra no medo de muitos em usar ferramentas eletrônicas para concluir a maior compra da vida.
O equilíbrio entre automatização e humanização é um dos grandes desafios para o setor, admite Linhares. “A gente precisa ensinar o cliente a como tirar foto, por exemplo.”
A segurança do sistema preocupa também especialistas em identificação digital. Em 31 de janeiro, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) realizou, em Brasília, uma audiência pública para discutir a estrutura e o funcionamento do Serp.
Presentes na audiência, associações alertaram sobre uso adequado das assinaturas eletrônicas.
Segundo o diretor-executivo da Associação Nacional de Certificação Digital (ANCD), Egon Schaden Júnior, para determinados atos, o uso de assinaturas com certificado digital no padrão da ICP-Brasil é fundamental para garantir a preservação em longo prazo dos documentos e das assinaturas digitais.
Para o presidente-executivo da Associação das Autoridades de Registro do Brasil (AARB), Edmar Araújo, os agentes podem usar uma infraestrutura já existente, com a presença do Estado brasileiro, em que as entidades se credenciam por meio de processos rigorosos, com os equipamentos utilizados na emissão de certificado digital chancelados pelo Inmetro.
“Temos um sistema nacional de certificação digital pronto para ser usado e que vai ao encontro dos anseios de garantir uma transação moderna, descomplicada, conveniente e, acima de tudo, segura no que diz respeito aos registros públicos, inclusive os imobiliários”, afirma Araújo. (Ana Paula Branco/Folhapress)
As projeções feitas pelos bancos sobre o mercado de crédito apontam ligeira melhora para este ano – agora é esperada alta de 8,3% em 2023 ante 8,2% em dezembro de 2023, revela a Pesquisa Febraban de Economia Bancária e Expectativas, que é realizada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) a cada 45 dias, logo após a divulgação da Ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). O aumento ocorre devido à expectativa de maior crescimento do crédito direcionado (+8,4% ante +7,7% da pesquisa em dezembro).
O levantamento captou melhora da estimativa para a expansão do crédito direcionado tanto para a pessoa física quanto jurídica. A projeção para a carteira do crédito direcionado pessoa física passou de 8,6% para 9,2%, enquanto para a carteira pessoa jurídica, a projeção subiu de 5,8% para 7,1%.
“No caso da carteira direcionada, uma explicação possível é a possibilidade de termos uma maior atuação dos bancos públicos no novo governo no mercado de crédito”, analisa o diretor de Economia, Regulação Prudencial e Riscos da Febraban, Rubens Sardenberg. “Outra possibilidade, que não é contraditória com a explicação anterior, é que a elevação dos juros no mercado livre e um desempenho mais fraco do mercado de capitais podem aumentar a demanda por recursos no segmento direcionado de pessoa jurídica”, complementa.
Por outro lado, acrescenta Sardenberg, houve redução na projeção para o crédito livre, de alta de 8,6% para crescimento de 8,2% em 2023. A revisão foi mais relevante na carteira pessoa física, cuja projeção recuou de alta de 10,1% para 8,7%. “Há uma expectativa de desaceleração econômica devido à inflação elevada, juros altos e um cenário externo mais desfavorável, ainda com muitas incertezas, afirma.
Pela primeira vez, a pesquisa coletou projeções para o crédito em 2024. A média das projeções para a expansão da carteira total ficou em 7,4%, o que aponta para a continuidade do movimento de acomodação do crescimento do crédito.
A Pesquisa Febraban, realizada com 19 bancos entre 8 e 14 de fevereiro, reúne as percepções das instituições financeiras sobre a ata da reunião do Copom, do Banco Central e as projeções para o desempenho das carteiras de crédito no ano corrente e no próximo.
Fiscal e Selic – O levantamento captou um certo pessimismo em relação à política monetária, com novo adiamento das expectativas quanto ao início da flexibilização. Agora, apenas 38,9% acreditam em queda da Selic no terceiro trimestre (ante 75% em dezembro). Por outro lado, 55,5% esperam que isso ocorra apenas a partir do quarto trimestre deste ano.
A mediana das expectativas projeta agora que a taxa Selic ficará estável em 13,75% ao ano ao menos até setembro. Na edição de novembro de 2022 da pesquisa, os analistas consultados projetavam queda já em junho.
Para o câmbio, a expectativa é de que se mantenha próximo de R$/US$ 5,30 até o final do 3º trimestre de 2023.
Em relação ao Produto Interno Bruto, a maioria dos participantes (55,6%) avalia que a atividade econômica irá crescer entre 0,5% e 1,0% em 2023. Os demais estão igualmente divididos (22,2%) entre um desempenho inferior ou superior ao do consenso.
Para 2023, um destaque positivo foi a melhora da expectativa para a taxa de inadimplência da carteira Livre, cuja projeção saiu de 4,7% para 4,4%.
Mercado americano- Quanto ao aperto monetário nos EUA, a maior parte dos analistas consultados (61,1%) espera que o Fed eleve os juros mais duas vezes (+0,25 ponto percentual em cada vez), para o intervalo entre 5,0% e 5,25% ao ano, e depois mantenha a taxa até o fim do ano. (Fonte: Diário do comércio).