O dia 28 de fevereiro foi escolhido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) – agência multilateral da Organização das Nações Unidas (ONU), especializada nas questões do trabalho, especialmente no que se refere ao cumprimento das normas internacionais – como o Dia Mundial de Combate às Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (Dort). A data chama atenção para duas doenças que têm relação direta com o trabalho e que atingem milhões de brasileiros.
O ambiente de trabalho e o trabalho em si, quando algumas precauções não são tomadas, podem propiciar alguns problemas, como a LER. Essa sigla significa Lesões por Esforços Repetitivos e está inclusa em um grupo de Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (Dort).
Apesar de ser menos conhecido do que a LER, o termo Dort foi introduzido para substituí-lo, pois existem outras sobrecargas – envolvendo postura inadequada, excesso de força, entre outros – que também são nocivas ao trabalhador. Tais sobrecargas causam outros sintomas e podem não apresentar lesões evidentes.
Os distúrbios mais frequentes são as tendinites (principalmente na região do ombro, cotovelo e punho), as lombalgias (ou seja, dores na região lombar) e as mialgias (dores musculares em vários locais do corpo).
Os Dort são passíveis de acometer pessoas em qualquer tipo de trabalho que seja executado de forma inadequada ou que não respeite os limites do corpo. A constituição física também é um fator de risco. Os Dort precisam ser investigados cuidadosamente, pois podem ser resultado de condições relacionadas ao trabalho somado a condições extra laborais.
De acordo com dados divulgados pela Contraf, entre 2012 e 2016, 89% de todos os acidentes reconhecidos pelo INSS para bancários e financiários eram transtornos mentais e Ler/Dort, sendo que 45% eram LER/Dort, 44% eram transtornos mentais e 11% outros acidentes. Entre 2017 e 2021, 90% dos acidentes reconhecidos foram também de LER/Dort e transtornos mentais (46% Ler/Dort, 44% transtornos mentais e 10% outros acidentes).
Sinais de osteofitose marginal em ossos de punhos e joelhos foram identificados em múmias de populações pré-hispânicas, que permaneciam de joelhos por tempo prolongado, executando movimentos de flexão e extensão dos membros superiores na atividade de moer grãos. Em 1700, o médico italiano Bernardino Ramazzini descreveu afecções músculo-esqueléticas entre os notários, escribas e secretários de princípes, atribuindo-as a três fatores básicos: vida sedentária, movimento contínuo e repetitivo da mão e atenção mental para não manchar os livros. Esses sintomas não lhe parecem familiares?
Para o diagnóstico de Dort, seja ele uma Lesão por Esforços Repetitivos ou outro distúrbio, o especialista pode solicitar histórico clínico detalhado, relato de comportamento de hábitos relevantes, histórico pessoal e familiar, exame físico e exames complementares, como o Raio X, a Ultrassonografia, a Ressonância Magnética e a Tomografia Computadorizada.
A LER/Dort pode atingir qualquer pessoa que execute determinado movimento repetidamente, como digitar, usar o celular, limpar a casa, escrever na lousa, carregar peso, tricotar, jogar videogame e muito mais. Dentre os principais sinais e sintomas de LER/Dort estão:
Estes sintomas podem ser exacerbados ao realizar determinados movimentos, mas também é importante observar quanto tempo duram, quais atividades o agravam, qual a sua intensidade, e se há sinais de melhora com o repouso, nos feriados, fins de semana, férias, ou não.
Normalmente os sintomas iniciam de forma leve e pioram apenas nos momentos de pico de produção, no final do dia, ou no final da semana, mas se o tratamento não for iniciado e se não forem tomadas medidas de prevenção, existe uma piora do quadro e os sintomas se tornam mais intensos e a atividade profissional fica prejudicada.
A demora em tratar do problema pode trazer um problema ainda maior, exigindo, em alguns casos, fisioterapia e intervenção cirúrgica. Muitas vezes, inclusive, é preciso recorrer a uma avaliação multidisciplinar para identificar a situação corretamente.
Para tratar é necessário realizar sessões de fisioterapia, pode ser indicado o uso de medicamentos, em certos casos pode ser necessária cirurgia, e a troca do posto de trabalho pode ser uma opção para que a cura seja alcançada. Normalmente a primeira opção é tomar um remédio anti-inflamatório para combater a dor e o desconforto nos primeiros dias, e aconselha-se a reabilitação através da fisioterapia, onde podem ser usados equipamentos de eletroterapia para combater a dor aguda, técnicas manuais e exercícios corretivos podem ser indicados para fortalecer/alongar os músculos de acordo com a necessidade de cada pessoa.
Na fisioterapia também são dadas recomendações para o dia a dia, com movimentos que devem ser evitados, opções de alongamentos e o que pode fazer em casa para se sentir melhor. Uma boa estratégia caseira é colocar uma compressa de gelo sobre a articulação dolorida, deixando atuar por 15-20 minutos.
O tratamento em caso de LER/Dort é lento e não é linear, havendo períodos de grande melhora ou de estagnação, e por isso é preciso ter paciência e cuidar da saúde mental durante esse período para evitar o quadro depressivo. Atividades como caminhada ao ar livre, corrida, exercícios como o método Pilates ou hidroginástica são boas opções.
O combate à LER/Dort, no entanto, é uma via de mão dupla: além da correção do ambiente, da adoção de medidas preventivas e de novas formas e ferramentas de trabalho por parte da empresa, as ações individuais também fazem a diferença. Por isso, para evitar essas condições, é importante: